quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Ruínas Romanas - Cláudio Willer


RUÍNAS ROMANAS

Quantos poetas
já não estiveram aqui
quantos poetas
já não escreveram
sobre a ofuscante aniquilação
diante desses dramáticos perfis minerais
tão próximos da pedra original
do barro anterior à forma
coisas
reduzidas a não mais que montanha
quase natureza
coisas
na fronteira da mão que trabalha, do vento, da água
aqui
ressoam os silvos do vento
aqui
ecoa a ensandecida voz do oco, do cavo, da fresta
- silêncio matizado de sussurros
e agora
eu também sou um dos que enxergam:
o informe
o monstruoso passado
- foram os escultores do avesso
que as reduziram a isso
os autores
do cruel teorema
que nos condena ao presente
e repete
que nada sabemos, nada vale a pena
pois passado e futuro só existem
como passo para a informe eternidade
- a custo divisamos lá fora
a realidade logo ali, logo aqui:
outro lugar
onde existiremos menos ainda
nós
é que somos os fantasmas
e a solidez
é o que está aí,
nas ruínas
que não param de repetir
que isto
- NADA –
é tudo o que temos
1993
Cláudio Willer in "Estranhas experiências e outros poemas", Lamparina Editora, 2004, págs.23/24
( ...o poema ia sendo anotado em um caderninho durante a caminhada Capitólio – Senado romano – Coliseu. (pág.11))

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